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Postado em: 26 de maio de 2023 | Por: Ezequiel Neves

‘Se a gripe aviária se adaptar aos humanos, teremos os ingredientes para uma nova pandemia’, diz diretor do Butantan

 

Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan. Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O Globo

Desde que o primeiro caso da gripe aviária H5N1 foi detectado de uma ave para um humano, em 1997, o mundo nunca esteve em um alerta tão alto para a possibilidade de uma mutação que leve à transmissão entre pessoas – e provoque uma nova pandemia. Fatores como o recorde de casos entre os animais, a expansão do vírus para localidades onde antes não havia infecções e o registro inédito de contaminações entre mamíferos têm preocupado especialistas.

— Se o vírus ficasse restrito só a aves, traria uma preocupação menor, mas ele foi transmitido para algumas espécies de mamíferos e, depois, entre eles. Isso aumentou a preocupação, porque nós somos mamíferos e mostra que o vírus tem capacidade adaptativa. Se ele conseguir se adaptar aos humanos, estão dados os ingredientes para uma potencial nova pandemia — diz o infectologista Esper Kallás, que assumiu neste ano o cargo de diretor do Instituto Butantan, em São Paulo.

Kallás, que também é professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), conta que o Butantan tem, desde janeiro, buscado se antecipar à ameaça da gripe aviária e preparado lotes de imunizantes que podem ser testados em humanos ainda neste ano.

Em entrevista ao Globo, o infectologista fala sobre a preocupação com a doença, as outras vacinas que estão em desenvolvimento no Butantan, a expansão da capacidade produtiva do instituto e a expectativa de utilizar a ButanVac como um reforço anual para a Covid-19.

Uma das questões mais pertinentes hoje de saúde pública é a gripe aviária, que tem preocupado autoridades de saúde com os primeiros casos no Brasil identificados em aves na última semana. Como o senhor vê o risco de uma nova pandemia?

Das pandemias que tivemos nos últimos 150 anos, a maioria foi por gripe. A pior delas foi a gripe espanhola, no começo do século 20. Os dados não eram muito bons naquela época, mas a projeção é que 2 a 5% das pessoas dos infectados morreram. Já na gripe aviária, os casos de transmissão para humanos de que temos registro, por contato muito direto com os animais, resultaram em até 50% de mortalidade. Isso seria uma tremenda tragédia.

E o problema é que nos últimos dois anos começou a se observar uma disseminação desse vírus para regiões onde não tínhamos antes, como na América do Sul, e agora no Brasil. Se o vírus ficasse restrito só a aves, traria uma preocupação menor, mas o que aconteceu também foi a transmissão para algumas espécies de mamíferos e, depois, entre eles, como nos leões-marinhos encontrados na costa do Pacífico. Isso aumenta a preocupação porque nós somos mamíferos, e mostra que o vírus tem capacidade adaptativa. Se ele conseguir se adaptar aos humanos, e circular entre nós, estão dados os ingredientes para uma potencial nova pandemia.

E como o Butantan tem se preparado para essa possibilidade?

Alguns países já vinham se antecipando e fazendo estudos de lotes estratégicos de vacinas contra a gripe aviária. No dia que cheguei ao Instituto, reunimos vários pesquisadores para começar um projeto de imunizante. Começou no fim de janeiro, e ali começamos a estudar quais eram as possibilidades, e temos isso andando há alguns meses.

O objetivo é fazer lotes piloto para testes pré-clínicos e, espero, ainda no segundo semestre, começar um estudo clínico para ver se a vacina que estamos fazendo tem capacidade de induzir uma resposta protetora em humanos.

Essa discussão vem sendo levada no Butantan, mas também junto à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, ao Ministério da Saúde e até mesmo com a Anvisa. O que temos procurado é antecipar os eventos, deixar todo o caminho pavimentado e estar preparado para acelerar o desenvolvimento caso nos encontremos numa situação de emergência novamente.

Nesse contexto de ampliação da produção, no ano passado o Butantan inaugurou uma nova fábrica que inicialmente seria focada na CoronaVac. Com a queda na demanda, quais são os planos hoje?

Estamos discutindo agora o primeiro uso dela ser para a produção de vacina contra a dengue, porque nós estamos na fase final de desenvolvimento e pretendemos até o começo de 2025 já ter doses prontas para serem entregues.

A fábrica vai entrar em operação no fim desse ano, porque ainda tem uma fase de validação das normas e exigências da Anvisa. Mas ela está nos adicionando uma flexibilidade enorme, nessa mesma fábrica poderemos produzir também vacinas para a Covid, hepatite, chikungunya (ainda em testes), anticorpos monoclonais, entre outros.

O Globo

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