Alguns detalhes sobre a primeira grande ruptura institucional da CGADB, em 1989, sob à presidência do pastor José Wellington Bezerra da Costa devem ser conhecidos. Como já se postou nesse blog, as versões são conflitantes e os interesses para que a primeira grande cisão na Convenção Geral ocorresse foram diversos.
Entre as questões levantadas para a suspensão de Madureira da CGADB, na 29ª Assembleia Geral Extraordinária, realizada em Salvador (BA), estava a velha polêmica sobre a "jurisdição eclesiástica". Na década de 1980, a abertura de novas congregações de Madureira no Norte de Nordeste do Brasil, acirrou os ânimos dos convencionais.
Porém, David Cabral em seu livro A outra face da História, destaca que a nova Mesa Diretora da CGADB resolveu nesse tempo, "reacender as antigas questiúnculas sobre 'jurisdição eclesiástica'". Cabral observa, que tal debate já era obsoleto, pois o Ministério "não possuía um só campo onde não houvessem um ou mais ministérios atuando". Para os líderes na região Norte, tal discussão não era tão obsoleta assim...
Ainda em vida, Paulo Macalão negociava as tensões. Com sua morte em agosto de 1982, as pressões aumentaram sobre o Ministério em um momento de delicada transição. Um dos personagens, que colaborou na época para os descontentamentos, foi o pastor Luiz Gonzaga Medeiros da AD em Carapicuíba (SP).
Fervoroso defensor do "Ide de Jesus", Gonzaga começou a abrir congregações ligadas ao seu campo eclesiástico por todo o Brasil. Tão identificado ficou o líder paulista com o expansionismo de Madureira, que Manoel Ferreira chegou a dizer que Gonzaga era um "ícone", e que, "Madureira sem o Luiz, não tem história."
Gonzaga, contudo, não era o único líder a desejar a expansão do Ministério. Luiz Fontes, em 1983, fundou a AD de Madureira em Porto Velho, Rondônia. Na mesma década outros trabalhos foram abertos pelo país. Havia também os descontentamentos com obreiros excluídos de outros Ministérios recebidos em Madureira e vice-versa.
Derrotado na CGADB de 1987, na Bahia, Ferreira entrou em rota de colisão com Mesa Diretora da CGADB. Sob sua liderança, os líderes de Madureira reunidos em sua Convenção Nacional ainda em 1987, resolveram "abrir oficialmente" congregações "em todas a capitais e Estados da Federação, onde não os estivessem". Em outra reunião nacional realizada em 1988, na AD em Madureira (RJ), o tema "A marcha da igreja, vencendo os obstáculos sem recuar", já dava uma ideia do posicionamento do Ministério diante da crise.
Criou-se um impasse: Alcebiades foi eleito para deter Madureira; e esta por sua vez resolve enfrentar as determinações da CGADB. José Wellington em sua biografia, comenta que no decorrer da crise, Alcebiades e Manoel Ferreira chegaram a cortar relações. Ferreira por sua vez, em depoimento histórico afirmou o seguinte: "Eu tenho certeza que, se o Alcebiades estivesse vivo, talvez hoje nós estivéssemos na CGADB". Pensava Ferreira e seus aliados numa solução negociada e permanecer na Convenção Geral?
O fim da história é conhecida: Alcebiades Vasconcelos faleceu em maio de 1988, e assumiu seu vice, o pastor José Wellington Bezerra da Costa. Na opinião de Ferreira, se Alcebiades não falecesse, haveria a possibilidade de Madureira permanecer na CGADB. Mas, José Wellington e seus aliados não desejavam isso.
Na AGE em Salvador votaram pela suspensão de Madureira 1.648 ministros. Oito pastores votaram contra: José Pimentel de Carvalho, Marinésio Soares da Silva, Silas Malafaia, Davi Nobre Rocha e Geremias Couto pela Missão. Nicodemos José Loureiro, Luis Francisco Fontes e Josué de Campos representando Madureira.
E entre os que votaram e exigiram a suspensão de Madureira da CGADB, estava o jovem pastor e sucessor do próprio Vasconcelos na AD em Manaus, Samuel Câmara.
Como se percebeu, a história é longa de cheia de detalhes. Alguns, como diz uma canção "são coisas muito grandes pra esquecer..."
Fontes:
ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.
ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.
ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
CABRAL, Davi, Assembleia de Deus: A outra face da história. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Betel, 2002.
DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.
FAJARDO, Maxwell Pinheiro, “Onde a luta se travar”: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980), (Tese de Doutorado em História) Assis-SP: UNESP, 2015.
FERREIRA, Samuel (org.) Ministério de Madureira em São Paulo fundação e expansão 1938-2011. Centenários de Glórias. cem anos fazendo história 1911-2011 s.n.t.
FIDALGO, Douglas Alves. “De Pai pra Filhos”: poder, prestígio e dominação da figura do Pastor-presidente nas relações de sucessão dentro da “Assembleia de Deus Ministério de Madureira”. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP.
FRESTON, Paul, Breve história do pentecostalismo brasileiro, In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
Mensageiro da Paz, outubro de 1988. CPAD, RJ.
VASCONCELOS, Alcebíades Pereira; LIMA, Hadna-Asny Vasconcelos. Alcebíades Pereira Vasconcelos: estadista e embaixador da obra pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
https://admadureiracarapicuibape.weebly.com/nossahistoria.html
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