Postado em: 5 de dezembro de 2017 | Por: Ezequiel Neves

Convenção da Assembleia de Deus no Brasil - De volta ao lar

O dia 02 de dezembro de 2017, entrou para a história das Assembleias de Deus no Brasil. Depois de 33 anos filiado à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), e de disputar diversas e polêmicas eleições para a presidência da entidade, o pastor Samuel Câmara da AD em Belém do Pará, apresentou ao país a Convenção da Assembleia de Deus no Brasil (CADB).

Para quem não conhece a história recente da denominação, a CADB é fruto de anos de discordâncias de uma boa parte dos pastores ligados à Convenção Geral com os rumos da política eclesiástica da instituição conduzida desde 1988, de forma quase interrupta pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa.

Mas, deixando de lado as questões políticas (as quais serão tratadas no blog no seu devido tempo), a CADB nasce com fortes apelos à memória assembleiana. A nova convenção surge justamente onde nasceu as ADs no Brasil. Foi em Belém do Pará, que em 1911, Gunnar Vingren e Daniel Berg fundaram a Missão de Fé Apostólica, posteriormente rebatizada de Assembleia de Deus. A congregação pioneira é chamada de Igreja Mãe, onde tudo começou 106 anos atrás. Todas as outras Igrejas e Ministérios tem nela sua origem. 

CADB: história como legitimação social

A CADB resgata uma velha reivindicação nas ADs, que foi sufocada com a institucionalização da igreja: o ministério feminino. O estatuto da convenção declara, que um dos propósitos da convenção é "Congregar, congraçar e promover o ministério cristão, sem distinção da vocação e chamada divina de homens e de mulheres". Ou seja, a CADB já nasce em sintonia com o desejo de reconhecimento e valorização do ministério feminino, algo que foi negado às mulheres na CGADB de 1930.

Outro ponto de destaque: o informativo oficial da CADB será o jornal Voz da Assembleia de Deus. Em forma digital ou impressa, a intenção do periódico será continuar "a história pioneira" dos jornaisVoz da Verdade, de 1917, e Boa Semente, de 1921, ambos publicados pela AD em Belém. O hino oficial será o de número 144 daHarpa Cristã (“Vem à Assembleia de Deus”). 

A CADB também abrirá representações em todo o Brasil e no exterior se assim precisar. Mas no Rio de Janeiro, a representação será no campo de São Cristóvão, 338, "ponto histórico da primeira sede da convenção e da casa publicadora, desde 1946, na antiga capital do Brasil." Vale lembrar, que a AD em São Cristóvão foi pioneira no Sudeste e mãe de todas as ADs e outras denominações pentecostais na região, e está fora da Convenção Geral desde 2002.

Ainda conforme o estatuto, sugere-se que o tratamento entre os convencionais seja "a palavra IRMÃO, e, no caso de Presidente, IRMÃO-presidente". Nos antigos documentos e periódicos assembleianos, essa era a forma que os crentes assim procediam. Com a institucionalização, o "irmão" desapareceu para dar lugar às nomenclaturas conhecidas (pastor, pastor-presidente, bispo, apóstolo).

O objetivo em tudo isso é claro: buscar legitimação institucional. A CADB não seria mais uma cisão no universo das ADs, e sim a continuação da história e do legado dos pioneiros. Para contrapor-se ao atual modelo de gestão da sua congênere (CGADB), vista como desvirtuada e engessada por décadas, os organizadores da nova convenção "resgataram" aspectos históricos e afetivos caros aos assembleianos.

O estatuto da CADB foi aprovado em um dia mais que simbólico para os evangélicos: 31 de Outubro de 2017, dia da comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante e por coincidência dos 60 anos do pastor Samuel Câmara.

Como toda nova organização vista como dissidente, a CADB terá apoios, críticas e vai render ainda muitos comentários nas mídias especializadas e redes sociais. Mas na questão da conquista de mentes e corações, pelo menos na área histórica, o pessoal da CADB fez a lição de casa...

Fontes:


ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro, “Onde a luta se travar”: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980), (Tese de Doutorado em História) Assis-SP: UNESP, 2015.

Acesse o estatuto da CADB no site http://portalcadb.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ATENÇÃO!
Todos os comentários abaixo são de inteira RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA de seus Autores(LEITORES/VISITANTES). E não representam à opinião do Autor deste Blog.

Apoio o Jornalismo Independente Pix 02789917345